Carregar o diagnóstico de autismo nível 1 de suporte pode parecer, para muitos, um fardo “leve”. Afinal, de fora, parecemos funcionar bem, adaptados às exigências do mundo. Mas por trás desse aparente equilíbrio, existe uma dor profunda, muitas vezes invisível.
O mundo nos exige máscaras. Aprendemos, com esforço, a imitar gestos, expressões e conversas que parecem naturais para os outros. Mas cada interação social, cada ajuste para “se encaixar”, nos consome de formas que poucos compreendem. O que parece ser “bom desempenho” é, muitas vezes, o resultado de um esforço constante e exaustivo.
Há também a solidão. Sentir-se diferente em um mundo que valoriza tanto a conformidade é um peso difícil de carregar. Somos frequentemente mal interpretados: nossas lutas são vistas como preguiça, nossos silêncios como indiferença, e nossas peculiaridades como excentricidade. Não é raro ouvir: “Mas você nem parece autista!”, como se isso apagasse as batalhas internas que enfrentamos diariamente.
A sobrecarga sensorial é outro fardo constante. Luzes fortes, sons altos e toques inesperados podem transformar momentos simples em torturas silenciosas. Mas o mais difícil é explicar isso para quem não sente o mesmo. Como transmitir que o barulho do mundo às vezes grita dentro da nossa mente?
Ainda assim, nossa dor não é invalidada pela nossa autonomia. Sim, podemos estudar, trabalhar e construir relações. Mas isso não significa que não estamos exaustos, que não desejamos um espaço onde possamos simplesmente ser.
Ser autista nível 1 de suporte é viver em um limiar: funcionamos o suficiente para que esperem o mundo de nós, mas sofremos o bastante para que essa expectativa se torne esmagadora.
No entanto, há beleza também. Em nossas paixões intensas, em nossa forma única de ver o mundo, em nosso jeito de sentir profundamente o que importa. O desafio está em encontrar um equilíbrio, em buscar acolhimento em um mundo que ainda tem muito a aprender sobre aceitação verdadeira.
Ser autista não é ser menos. Mas, às vezes, a luta para mostrar isso ao mundo – e a nós mesmos – é mais pesada do que parece.
アリネ・クルズ
Aline Cruz